O casal acusado de criar uma falsa vaquinha on-line usando a foto de uma criança com câncer foi preso na manhã deste sábado (2) por policiais civis da 10ª DP (Botafogo). Luiz Antonio dos Santos Barbosa e Tainara Ribeiro Subtil estavam em uma pousada em Rio das Ostras, na Região dos Lagos fluminense, quando foram surpreendidos pelos agentes. A 27ª Vara Criminal da Comarca da Capital decretou a prisão preventiva da dupla, que foi denunciada pelo Ministério Público do Rio de Janeiro e vai responder por crime de estelionato, praticado com falsificação e uso de documentos falsos.
— A investigação apurou que, na realidade, os dois denunciados também se apropriaram de publicações feitas tempos atrás por uma outra família, que solicitou contribuições para o tratamento de uma criança realmente acometida de doença grave — destacou Sauvei ao portal. — Desta vez, embora a criança exibida na campanha exista e é doente, ela não tinha nenhum vínculo com os dois estelionatários, que recolheram para si todo o dinheiro arrecadado.
Vítimas de pelo menos cinco estados brasileiros já procuraram a delegacia para denunciar os perfis falsos que seriam mantidos pelo casal nas redes sociais. Uma das crianças que tiveram as fotos usadas foi Nicoly, de 5 anos. Sua mãe, Madelaine Morigi, contou que abriu uma vaquinha para arrecadar verba para ajudar nos exames e no tratamento dela, que foi diagnosticada com leucemia. Ao todo, a família angariou em duas campanhas de arrecadação R$ 17,3 mil. Ela descobriu que a filha poderia estar sendo vítima do golpe quando foi publicar o link da vaquinha em uma rede social. Um homem a chamou de golpista por estar usando a imagem da menina: ele tinha visto a foto de Nicoly em outra campanha, com outro nome.
— É muito importante que as pessoas chequem sempre as informações (das vaquinhas) antes de efetuar qualquer doação. E que esse tipo de crime não seja motivo de desestímulo à boa-fé das pessoas, que ainda tem que imperar na nossa sociedade — afirmou ao RJ1 o delegado Alan Luxardo, titular da 10ªDP.
Descobertos pela família
O casal se mudou para o Rio em meados de 2022. Eles disseram que se conheceram pela internet e Luiz Antônio começou a trabalhar como motorista de aplicativo usando o carro da irmã, a taxista Stephanie. Ela conta que um mês depois ele começou a esbanjar: mobiliou a casa, viajava e se hospedava em hotéis. Pelo rastreador do carro, ela descobriu que o irmão tirou folgas em Copacabana, Zona Sul do Rio.
Mas foi em um churrasco que a ficha de Stephanie caiu. Ela viu a cunhada mexendo no celular em um perfil de uma criança que não era do convívio da família. Observando Tainara, ela decidiu filmar a mulher editando a foto da criança e achou o perfil na rede social.
— O número de telefone é o número atual da Tainara. Fui olhando todas as fotos da página onde eu cheguei no laudo médico, que não tinha carimbo — explica Stephanie.
A irmã de Luiz Antônio encontrou a médica que seria dona do atestado. A oncologista Juliana Ferrari Mutaro trata pacientes com leucemia, mas não trata crianças. Ela também nunca trabalhou na suposta clínica do perfil. A profissional também tentou descobrir quem estava usando seus dados e ao fazer um depósito viu que a conta pertencia a Hosana, mãe de Luiz Antônio e sogra de Tainara.
— Eu não tenho nada a ver com isso. Eu fui usada como muitos aí estão sendo usados por eles. Ela (Tainara) falava que um tio rico, um padrinho rico do Rio Grande do Sul (que mandaria os valores). Eu vou desconfiar uma coisa dessa do meu filho? Jamais. Eu estou sendo uma vítima do meu filho, que permitiu uma coisa dessas — defende-se Hosana.