Uma festa que ocorre semanalmente em um sítio no Catiri, em Bangu, na Zona Oeste do Rio, teve um fim violento na madrugada desta segunda-feira. Um bando armado invadiu o espaço e abriu fogo contra os músicos, que se apresentariam. Um cantor de pagode foi atingido por disparos na coxa e na costela, foi hospitalizado e está internado no Hospital Albert Schweitzer, em Realengo. Já dois DJs foram socorridos, mas chegaram mortos à unidade de saúde. A quarta vítima, uma mulher, foi atendida e já recebeu alta.
O espaço na comunidade do Catiri recebia eventos todos os domingos, em que o público comprava ingressos para poder acompanhar as apresentações. O grupo de pagode já tinha terminado de tocar e desmontava o equipamento, para os DJs assumirem o palco. Foi quando o grupo armado do Comando Vermelho (CV), que seria da comunidade vizinha da Vila Kennedy, invadiu o terreno e abriu fogo.
Segundo pessoas próximas das vítimas, os bandidos do CV alvejaram os DJs, mas não haveria motivo. Os criminosos estariam em busca de algum integrante da milícia, grupo que dominava o Catiri. De acordo com fontes ouvidas pelo GLOBO, a região está enfraquecida desde a morte de Marco Antônio Figueiredo Martins, o Marquinho Catiri, em novembro de 2022. Ele era apontado como chefe da milícia que atua na localidade. Desde então, a comunidade é alvo de constantes investidas do tráfico de drogas. A madrugada de tiroteios também se estendeu à comunidade da Vila Aliança, dominada pela facção rival Terceiro Comando Puro (TCP).
Lorran Oliveira, DJ
Botafoguense fanático e conhecido como LP, o DJ Lorran Oliveira dos Santos morreu após ser baleado. Sua amiga e promotora de eventos Elaine Ferreira lembra que ele era “uma pessoa excepcional”.
— Morador do Jardim Bangu, ele era muito tranquilo. Não tinha quem não gostasse dele. Era trabalhador, pai, filho… é muito estranho falar dele nessa situação, foi muita covardia — diz Elaine, que foi informada da morte do amigo por mensagem.
Pelas redes sociais, diversas mensagens de despedida foram compartilhadas por amigos, que lembraram do DJ como alguém engraçado, querido por todos e que nunca quis “guerra com ninguém”.
Em seu perfil no Instagram, Lorran também compartilhava fotos e vídeos com artistas, como o MC Poze. Já com o cantor Delacruz, o DJ brincou na legenda com os apelidos dos dois: “Daniel Azevedo da Cruz, o tal do Delacruz. Lorran Oliveira, (o) tal do LP”.
Alex Adriano, DJ
Outro DJ morto, depois de ser alvejado, foi Alex Matos Adriano, conhecido como Lekin.
Em suas redes sociais, ele compartilhava suas conquistas na carreira artística, como a primeira apresentação fora do Rio, em Muriaé (MG), em 2021. Na ocasião, o DJ Lekin tinha ido apenas para acompanhar amigos, mas foi convocado por eles para subir no palco: “Um momento mágico”, definiu à época. A última postagem em um show foi num baile de carnaval no Jardim Bangu, no último dia 11.
Os momentos em família também ganhavam destaque em suas redes, como ao lado de sua filha. Já com a companheira, ele compartilhava orgulhoso momentos românticos, assim como conquistas do casal, como quando compraram um carro, em 2022.
Caick Oliveira, cantor
Já o cantor de pagode Jefferson Caick Gonçalves de Oliveira sobreviveu ao ataque a tiros. Ele já tinha terminado sua apresentação e desmontava os equipamentos, quando os bandidos invadiram o terreno. Ele foi atingido na costela, com bala que atravessou o corpo e saiu sem atingir nenhum órgão, e na coxa, parte do corpo que precisará passar por cirurgia, conforme conta o amigo e músico Ellyson Brandão.
Socorrido para o Hospital municipal Albert Schweitzer, em Realengo, o artista, que se apresenta com o nome artístico de Caick Oliveira, segue internado e apresenta quadro de saúde estável. Ele é casado e tem dois filhos.
Jéssica Monteiro Silva
Já a quarta vítima dos disparos — e que sobreviveu — deu entrada por conta própria no Hospital Albert Schweitzer. Segundo a unidade de saúde, Jéssica Monteiro Silva foi atendida e recebeu alta hospitalar.