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Kamala avança em tabuleiro eleitoral e pressiona Trump

Gernettia Jackson, de 50 anos, trabalha em uma ONG que ajuda crianças em situação de risco nos subúrbios de Milwaukee, no Wisconsin, no Meio-Oeste dos EUA. Desde o salto da inflação no governo do presidente Joe Biden, Nia, como é conhecida, faz bico como motorista de aplicativo nas horas vagas para pagar o aluguel e o mercado. Negra, se diz “progressista” e sempre votou nos democratas. Mas estava decidida, mesmo vivendo em um dos distritos eleitorais mais disputados do país, a se abster este ano. Só uma mudança na chapa governista, contou, um dia antes de o ex-presidente Donald Trump ser aclamado na Convenção Republicana, mês passado, a faria votar:

— Não voto desde o (Barack) Obama. Biden já estava velhinho há quatro anos. Agora, se fosse na Kamala (Harris), eu votava, e de cabeça erguida. Mas não vão deixar, né?

Eleições EUA: Delegados em cada estado americano — Foto: Editoria de Arte / O Globo

Deixaram. Em três semanas, desde que substituiu Biden na disputa pela Casa Branca, a vice-presidente não só passou à frente na média das pesquisas nacionais como emparelhou a corrida em Wisconsin, Michigan e Pensilvânia, estados decisivos da chamada Muralha Azul — que, com exceção destes três, vota normalmente nos democratas desde os anos 80. Kamala também virou uma dor de cabeça inesperada aos até então favoritos republicanos no Cinturão do Sol, que inclui em sua maioria estados do sul e do sudoeste de temperaturas mais altas e onde cresce a diversidade demográfica.

Como Obama em 2008

O entusiasmo da base foi atestado no crescimento da intenção de votos nas pesquisas em estratos que votam majoritariamente pelos democratas — mulheres, jovens, latinos e afro-americanos. E nos comícios lotados e animados que Kamala comandou na semana passada com o governador Tim Walz, do Minnesota, escolhido vice da vice. Em estado de graça, o ex-professor e militar, bonachão e sem papas na língua, que assumiu na campanha o papel de “gente como a gente”, jurou: “Não via entusiasmo assim desde a campanha de Obama em 2008.”

Em pleito em dia útil e sem comparecimento obrigatório, empolgação vale ouro. E a ambição da campanha democrata é que a agora possibilidade de virada, improvável com Biden, não eletrize apenas a base na Muralha Azul. “O Walz fala do mesmo jeito que o eleitor do meio do país. E aqui estamos todos de saco cheio de advogados sabichões”, disse ao site Politico o ex-deputado Tick Segerblom, líder da campanha democrata em Nevada. O que buscam agora é convencer os eleitores independentes que extremistas — ou, como viralizou Walz, “esquisitões” — são os republicanos.

Na cédula em Nevada estará a proposta de emenda à Constituição local para garantir o direito ao aborto, apresentado pelos democratas como uma das liberdades individuais cerceadas pelos republicanos. Ou, como resumiu Walz, em outro momento viral: “Eles falam em liberdade, mas querem o Estado dentro dos consultórios médicos. Que cuidem da suas vidas!”

Ao se debruçar sobre as pesquisas, a campanha democrata destaca algo inimaginável há um mês: Kamala abriu uma segunda frente para alcançar 270 delegados no Colégio Eleitoral, no Cinturão do Sol, que inclui Nevada, Arizona e Geórgia. Os dois primeiros têm eleitorado latino com mais de 20% do total. E o estado sulista tem mais de 30% de eleitores negros. Em todos Trump tinha vantagem sobre Biden. Hoje, há empate, com tendência de subida de Kamala. O Cook Political Report moveu os estados esta semana de “republicanos” para “empate”. E a chapa democrata, não por acaso, fez comício na sexta no Arizona.

Na mais conservadora Carolina do Norte, também com voto negro acima dos dois dígitos do total e eleição ao governo estadual em que o candidato democrata aparece à frente do republicano de extrema direita, a vantagem de Trump despencou para o limite da margem de erro. Uma derrota democrata na Pensilvânia, com 19 delegados, poderia ser neutralizada pelos 16 da Geórgia ou da Carolina da Norte e os 6 de Nevada, aumentando possibilidades à esquerda em tabuleiro político favorável aos republicanos.

Outro retrato importante da corrida a três meses do fim é o do dinheiro. Kamala terminou julho com R$ 2 bilhões em caixa, contra R$ 1,8 bi de Trump. Frente que deve aumentar este mês: só no dia do anúncio de Walz, os democratas embolsaram R$ 200 milhões. Mas, enquanto estes precisam pulverizar os fundos, os republicanos, destaca Domenico Montanaro, editor sênior de Política da Rádio Pública Nacional dos EUA, se deram ao luxo, até agora, de concentrar 77% de suas peças de propaganda em Pensilvânia e Geórgia. “É que, se vencer nos dois, Trump pode, hoje, perder em outros cinco estados mais decisivos e mesmo assim chegar aos 270. Só que a vantagem de Trump na Muralha Azul evaporou e Kamala entrou na disputa pelo Cinturão do Sol”, escreveu no X.

Colapso nervoso

O estrategista republicano Matthew Bartlett, que trabalhou no Departamento de Estado no governo Trump, detectou, no Politico, um “colapso nervoso e público” do ex-presidente, irritado com o crescimento da adversária nas pesquisas e no que percebe ser a substituição, na mídia, da comoção pelo atentado contra sua vida pelo fascínio pela chapa democrata.

Trump não viajou a qualquer estado decisivo na semana passada, nem o fará, informa sua campanha, nesta. Foi, por isso, tachado de “preguiçoso” pelos democratas. Deixou seu companheiro de chapa, o senador J.D. Vance, percorrer os mesmos endereços, em eventos mais esvaziados do que os de Kamala-Walz, prejudicados por sua ausência.

Na quinta-feira, o ex-presidente convocou entrevista coletiva na Flórida, em que afirmou estar “muito à frente nas pesquisas”, o que não é verdadeiro. O evento foi traduzido pelos democratas como atestado de que Trump sentiu o golpe da mudança na corrida eleitoral. Por pouco mais de uma hora, ele atacou a adversária, mas pouco bateu nos pontos considerados pelos republicanos os mais fracos de Kamala: a inflação, que dói no bolso de eleitores como Nia no decisivo subúrbio de Milwaukee, e o fluxo recorde de pessoas em situação irregular pela fronteira com o México. Preferiu questionar a identidade racial e a inteligência da vice.

Ao Washington Post, fontes da campanha republicana confirmaram o contraste entre o clima de vitória antecipada em Milwaukee, quando se tratava de nomes para o ministério do segundo governo Trump, e a preocupação com a campanha otimista dos democratas, que devem aumentar a exposição na mídia em oito dias, quando começa convenção do partido. Mas ponderam que seguem com um caminho mais fácil para vencer o Colégio Eleitoral. E que a estratégia imediata será sublinhar, inclusive no debate com Kamala, em 10 de setembro, as propostas mais à esquerda dos democratas, em um “alerta” aos independentes que decidirão as eleições na Muralha Azul e também no Cinturão do Sol.